Era para ser um dia comum, daqueles que começam com planos simples de aproveitar o feriado em família. Mateus, ainda pequeno, tinha dormido na casa da avó quando Lídia recebeu a ligação que mudaria tudo. Do outro lado da linha, veio o alerta: haviam aparecido manchas roxas pelo corpo do menino. Primeiro, uma. Depois, onze. O que parecia um detalhe qualquer acendeu um sinal que Lídia, no fundo, já temia, mas não queria acreditar.

Aos três anos e meio, o diagnóstico de leucemia caiu como um rompimento brutal da normalidade. “O chão se abriu”, ela descreve, como se naquele instante o mundo deixasse de ter chão, e ela própria mergulhasse num vazio sem fim. A comida perdeu o sabor, a música ficou sem melodia, e a vida, antes colorida, foi coberta por um manto escuro de incertezas.

Vieram as internações, os exames, as noites insones, as passagens pela UTI e as intercorrências que testaram todos os limites da família. Mas, paradoxalmente, foi nesse mergulho profundo que Lídia encontrou algo que transformaria sua maneira de enxergar a vida. Na porta da UTI, ajoelhada e em prantos, ela fez uma oração que, para ela, marcou o início da cura do filho. Mesmo sem garantias, mesmo diante da frieza que às vezes a medicina exige, ela sentiu que algo se acendia ali, invisível aos olhos, mas poderoso o suficiente para guiar os próximos passos.

Foram dois anos e meio de tratamento intenso, com desafios que pareciam intransponíveis. A cada nova medicação, uma esperança; a cada reação adversa, um novo medo. Ainda assim, Mateus, mesmo tão pequeno, mantinha uma serenidade que surpreendia todos à sua volta.

A travessia, para Lídia, não foi apenas sobre a doença do filho. Foi um profundo exercício de ressignificação da vida. Ela e o marido deixaram para trás a antiga rotina, enfrentaram dificuldades financeiras e, da necessidade, nasceu uma nova oportunidade. Com apenas duzentos reais, começaram a produzir perfumes artesanais, levando a marca do cuidado e da reinvenção para dentro do próprio negócio. As primeiras clientes foram as enfermeiras do hospital, que acompanharam não apenas o crescimento da empresa, mas também a recuperação de Mateus.

Hoje, passados os anos mais duros, a família carrega cicatrizes — não como marcas que prendem ao passado, mas como lembranças do caminho percorrido e da força que os sustentou. “Aprendi a ressignificar o reclamar”, conta Lídia, que também aprendeu a olhar para a vida com um olhar mais generoso, entendendo que, por vezes, os verdadeiros problemas são aqueles que exigem algo além das nossas forças, algo que escapa ao controle humano.

Gratidão é a palavra que resume a relação da família com o GRAACC. Lídia não se cansa de elogiar a equipe, da recepção aos médicos, destacando a humanização do atendimento que fez toda a diferença durante o tratamento de Mateus. Tanto que hoje, a empresa que nasceu nos corredores do hospital tornou-se mantenedora da instituição, uma forma que Lídia e o marido encontraram de retribuir o cuidado que receberam e de ajudar outras famílias a manter acesa a esperança.

E embora as lembranças ainda provoquem certa dor — como cada vez que Mateus tem uma febre ou uma íngua no pescoço e o coração da mãe dispara —, Lídia sabe que, por mais longa que a noite pareça, o dia sempre chega. Mais do que uma certeza, tornou-se um ensinamento que ela carrega e repete como um mantra de sobrevivência e fé.

“Parece que você está numa noite sem fim, mas o dia chega”, ela diz. E quando chega, ilumina tudo de um jeito tão inesperado que até as sombras ganham um novo significado.

 

 


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