Thiago Henrique, hoje com 33 anos, carrega no sorriso uma luz que parece vinda de outra dimensão. Talvez seja porque, quando menino, ele aprendeu a enxergar o mundo de um jeito que poucos têm coragem ou oportunidade. Ele foi paciente do GRAACC aos 10 anos, enfrentando um linfoma de Hodgkin. Hoje, é voluntário da instituição. Mas para entender como ele chegou até aqui, é preciso voltar no tempo e ouvir sua própria voz.

“Eu cresci no Grajaú, sabe? Bairro tranquilo, muito próximo da represa. Eu e meus irmãos vivíamos na rua, brincando até tarde da noite. Esconde-esconde, pega-pega, fazer fogueira… Era uma infância livre. Eu sempre fui criativo, imaginativo. Brincava de personagens, inventava histórias. Era o irmão mais velho, meio que a linha-guia das brincadeiras lá em casa. Só que, aos 10 anos, minha vida mudou completamente.”

O jovem começou a sentir sintomas que ele mal sabia nomear: coceira, mãos ásperas, suor excessivo, crises de bronquite, dores de estômago. Até que um gânglio na axila e a falta de ar alertaram sua família. O diagnóstico veio como um terremoto. “Quando o médico falou que era um tumor, meus pais ficaram arrasados. Para eles, era como uma sentença de morte. Mas eu sabia, dentro de mim, que ia ficar bem. Eu olhei para a minha mãe e disse: ‘Não se preocupe, mãe. Eu sei que eu vou ficar bom.’ Era estranho, porque, naquela época, quem deu força fui eu.”

O caminho até o hospital era longo. “A gente acordava às 3h40 da manhã para pegar o transporte público. Minha mãe sempre dava um jeito de me arrumar um cantinho para sentar, porque eu já estava desgastado pelo tratamento. A volta era igual: ônibus cheio, cansaço, mas também esperança.”

Aqui, no GRAACC, ele encontrou algo que mudaria a sua história. “O hospital não era só um lugar de cuidados médicos. Era um lugar que acolhia. Eu lembro do Samuel, o voluntário da brinquedoteca. Logo quando cheguei, estava cheio de incertezas, com medo do que ia acontecer. Ele passou por mim, viu que eu estava mexendo em um tabuleiro de xadrez e perguntou: ‘Sabe jogar?’ Eu falei que não, mas que queria muito aprender. Ele se sentou e começou a me ensinar. Toda terça-feira, era o nosso ritual.”

Entre sessões de quimioterapia e radioterapia, o jogo com o voluntário tornou-se um refúgio. “Era como se, por algumas horas, eu não estivesse doente. Eu não vinha mais ao GRAACC para tratar o linfoma, eu vinha para jogar. No meu aniversário, ele me deu um tabuleiro de ímã, para que as peças não caíssem enquanto eu jogava na cama. Ele mudou a minha vida, e talvez nem saiba disso.”

Thiago nunca mais encontrou o professor de xadrez. “Eu já procurei em tudo quanto é lugar. Se eu pudesse dar um abraço nele hoje, eu diria: ‘Você foi o meu super-herói.’ Porque, para mim, o jaleco azul e a camiseta amarela que ele usava eram como um uniforme de super-herói. Desde aquele tempo, eu sabia que um dia vestiria aquela roupa.”

Depois de dois anos de procedimentos, o jovem venceu o câncer. “Se alguém me dissesse que eu poderia voltar no tempo e escolher não passar por isso, eu não escolheria. Foi aqui que eu construí o alicerce da pessoa que queria ser. Eu sou grato, profundamente grato. A doença não foi uma maldição, foi uma bênção. Ela me deu propósito.”

Hoje, formado em Análise e Desenvolvimento de Sistemas, com uma carreira sólida, o ex-paciente coordena uma equipe de tecnologia e, nas horas livres, veste o jaleco azul e a camiseta amarela. Ele voltou ao GRAACC, mas, desta vez, como voluntário. “Quando eu entro aqui, sinto como se estivesse voltando para casa. É inexplicável. Cada sorriso de uma criança, cada conversa com uma família, é como se eu estivesse retribuindo o que recebi. Talvez, um dia, eu encontre o Samuel. E quando isso acontecer, quero que ele saiba que foi ele quem me inspirou a ser quem sou hoje.”

O GRAACC é um lugar onde vidas se transformam. Thiago é a prova viva disso. O menino imaginativo que um dia viu um herói naquele uniforme agora inspira outros pequenos pacientes a acreditarem que, no meio da adversidade, ainda é possível encontrar esperança e dar um xeque-mate na doença.


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