Nem sempre a vida avisa quando vai mudar de rumo. Às vezes, ela surpreende com um diagnóstico, um susto. Mas também revela sua grandeza em pequenos gestos, encontros e afeto. A história da Lorena — ou da Lolô, como é chamada com carinho — mostra como o amor, a confiança e o acolhimento podem florescer mesmo nos momentos mais difíceis.

A menina tinha apenas 11 anos quando recebeu o diagnóstico de um tipo raro de tumor, após notar um caroço na cabeça, inicialmente confundido com um simples machucado. A partir daí, sua família iniciou uma jornada que, mesmo cheia de desafios, foi marcada por descobertas, solidariedade e um profundo sentimento de pertencimento.

O pai, Adriano, conta que o tumor cresceu rapidamente e que, após uma série de exames e biópsias, ficou claro que Lorena precisaria de um cuidado especializado. Foi assim que chegaram ao nosso hospital.

“Quando os médicos daqui, de Araraquara, falaram: ‘Se fosse meu filho, eu levaria pro GRAACC’, a gente não teve dúvida. Sabíamos que era pra lá que queríamos ir. E desde o primeiro momento, nos sentimos acolhidos. A Lorena não virou um número. Ela se tornou a Lorena dessa casa que abraça.”

Com um sorriso doce e olhar atento, ela enfrentou todo o processo com uma maturidade encantadora. Ganhou apelidos — e deu também: batizou seu port-a-cath de “Porsche”, porque era por ali que a medicação passava “voando”, para curá-la mais rápido.

O port-a-cath é um pequeno dispositivo implantado sob a pele, geralmente na região do tórax, que permite o acesso direto à corrente sanguínea. Por ser mais confortável e seguro, ele é utilizado durante o tratamento do câncer para facilitar a aplicação da quimioterapia e a coleta de exames, evitando múltiplas punções nas veias.

Durante a internação, aprendeu o nome da doença, desenhou quadrinhos sobre as células, virou referência para outras crianças e encantou cada profissional que cruzou seu caminho.

“Ela não se deixou abater. Encontrou um lugar onde podia ser criança, brincar na brinquedoteca, fazer amigos e, ao mesmo tempo, entender tudo que estava acontecendo com ela. A equipe tratava nossa filha com um respeito e uma humanidade que nunca vamos esquecer”, diz Adriano.

A paixão da Lolô por São Paulo cresceu junto com o vínculo com o hospital. Sempre que pode, visita a instituição para rever a equipe e entregar suas famosas cocadinhas, feitas com afeto para agradecer a todos que participaram da sua recuperação: funcionários, médicos e voluntários.

A trajetória da jovem também inspirou o pai a realizar ações solidárias. Ciclista, Adriano já pedalou de São Paulo até Araraquara em um “presente solidário”, arrecadando recursos para o hospital. E ele não foi o único: a própria Lolô organizou roteiros de passeios pela cidade, sempre com paradas na sede do hospital, como se fosse visitar sua segunda casa.

Ela gosta de dizer que “nasceu de novo” no dia 25 de março de 2024, pouco antes de completar 14 anos, quando ouviu da equipe médica que havia terminado o tratamento e entrado em remissão. Desde então, os exames continuam regulares e o carinho pelo hospital só cresce.

“Se você perguntar o que ela quer ser quando crescer, ela não vai hesitar: médica. E ela já escolheu onde quer estudar: na Unifesp. Porque ela quer voltar pro GRAACC, mas agora do outro lado. Quer cuidar de outras crianças como ela foi cuidada.”

Nosso hospital é, para a menina, mais que um lugar de tratamento. É um lugar onde ela aprendeu, cresceu e floresceu. Onde os profissionais viraram amigos. Onde a dor foi enfrentada com leveza, e a esperança se fortaleceu a cada pequeno gesto. E é também onde ela aprendeu o valor de transformar amor em ação, e gratidão em compromisso.

Para nós, Lorena é o retrato da coragem. Um lembrete de que o câncer infantil pode ser vencido. E de que cada contribuição, cada apoio, cada gesto solidário, faz parte dessa transformação.

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