O primeiro sinal veio em forma de luz. Um reflexo branco no olho da pequena Maria Helena. No início, sua mãe, Afra, pensou que fosse apenas um truque da iluminação, uma brincadeira do sol refletindo nos olhinhos curiosos da menina. Mas a marquinha continuava ali, mesmo quando a noite caía.

“Eu lembro de ver aquele brilho e algo dentro de mim gritou que havia algo errado”, conta a mãe. “Na hora, me veio à mente um comercial que vi na televisão anos antes, dizendo que um brilho no olho podia ser sinal de câncer. Meu coração de mãe sabia que não era coisa boa.”

Aos três anos e dez meses, veio o diagnóstico: retinoblastoma, um dos principais tumores oculares da infância. Um nome grande para alguém tão pequena. No interior de Pernambuco, onde moravam, a notícia chegou como um golpe seco, sem anestesia. Ali, não havia tratamento. A única saída era partir em busca da cura.

O 4 de dezembro de 2006 ficou gravado na memória materna. O dia em que chegaram ao GRAACC e a filha ganhou um futuro.

A mãe deixou a casa, o emprego, os outros filhos. Levou apenas o essencial: algumas roupas, documentos e a caçula no colo. “Eu não sabia quando voltaríamos. Só sabia que precisava salvá-la.” Seguiram para São Paulo, sem garantias. Nos primeiros meses, ficaram na casa de parentes. Depois, passaram a viver na Casa Ronald McDonald Moema, uma parceria do GRAACC com o Instituto Ronald McDonald que hospeda os pacientes vindos de outros estados durante o tratamento.

Neste momento, o Hospital do GRAACC virou a nova rotina. O tempo passou a ser contado em sessões de quimioterapia. Seis ciclos, sete meses. Até que os médicos disseram que não havia outra escolha para salvar a vida da meninas: era preciso retirar o olho. “Foi a decisão mais difícil da minha vida”, diz Afra. “Mas quando falei com a Maria, ela me deu a resposta mais forte que já ouvi. Olhou para mim e perguntou: ‘Se tirar, a gente volta pra casa?’ Eu disse que sim. E ela respondeu: ‘Então pode tirar’. Foi ela quem decidiu.”

Maria Helena não titubeou e nem chorou. A menina, caçula de três irmãos mais velhos, aprendeu cedo a ser forte. “Se os irmãos corriam, ela corria atrás. Se escalavam, ela dava um jeito. Nunca aceitava ficar de fora”, relembra Afra.

Na escola, não foi diferente. Depois da cirurgia, os colegas a apelidaram de “a menina do olho de vidro”. A fortaleza de Maria transformou a zombaria em orgulho da sua superação.

Começou a contar sua história em escolas, eventos, para quem quisesse ouvir. “Eu queria que as pessoas soubessem que era só uma fase. Que passava”, diz a pernambucana. Em uma dessas palestras, uma escritora se encantou por sua trajetória e decidiu transformá-la em livro. Assim nasceu “A Menina do Olho de Vidro”, hoje vendido nos maiores e-commerces do Brasil.

“Ela sempre foi além”, diz a mãe, orgulhosa. “Nunca aceitou limitações, nunca se vitimizou. Pelo contrário, sempre quis mostrar que era capaz.”

Hoje, aos 22 anos, cursa odontologia e sabe que um sorriso pode mudar tudo e que há muitas formas de enxergar o mundo – e nem todas precisam de olhos.


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