Para Victor, hoje com 24 anos, uma amizade vai além de tardes despretensiosas com amigos de infância ou conversas casuais. Ele descobriu que laços verdadeiros também podem nascer em lugares improváveis, como dentro de um hospital, entre exames e agulhas.

Quando estava com apenas 11 anos a notícia chegou, pesada e impiedosa: um tumor cerebral. O corpo, que até então brincava em aulas de capoeira e carregava violões cheios de sonhos, agora precisava lidar com sessões de quimioterapia e radioterapia. “Senti muito medo”, ele diz. Como explicar a uma criança que, de repente, a vida iria mudar. Entre uma consulta e outra, o garoto se agarrava a sua rotina: ia à escola e insistia em ser ele mesmo, ativo e curioso, enquanto o cabelo perdia um pouco de volume.

E foi nesse cenário de incertezas que o jovem conheceu a Dra. Nasjla, a nossa médica oncologista pediátrica que, ao longo do tempo, deixaria de ser apenas profissional da saúde para se tornar uma mentora. A coleta de líquor, um dos momentos mais difíceis do tratamento, se tornava menos penosa sob a atenção da doutora. “Ela sempre me tratava com paciência”, relembra ele. Ao lado dela, ele aprendeu que, mesmo dentro de um hospital, há espaço para afeto.

A primeira internação foi uma cicatriz emocional. Ainda na fase de investigação, o menino se viu pela primeira vez cercado por um ambiente de silêncio e rostos atentos. Mas, quando recebeu alta médica em 2012, sentiu como se o mundo estivesse se abrindo de novo. A partir daí o jovem passou a retornar apenas para consultas anuais. O tempo parecia, finalmente, soprar leve sobre sua vida.

Em 2020, deu um passo importante: ingressou na faculdade de medicina, decidido a transformar sua dor em cuidado. “Sempre gostei da área da saúde, mas depois do diagnóstico não tive dúvidas: eu queria ser médico”. Só não imaginava que a doença voltaria para testar sua força mais uma vez.

Após um jogo de basquete, Victor acordou com uma dor de cabeça avassaladora. Novos exames confirmaram a recidiva – o tumor havia voltado. Em meio à pandemia e às aulas remotas, iniciou outra rodada de quimioterapia e radioterapia. Desta vez, o desafio foi ainda maior: ele precisaria passar por um transplante de medula óssea, realizado em maio de 2021.

Mas, como sempre, o jovem resistiu. Em setembro daquele ano, a notícia tão aguardada chegou: o procedimento foi um sucesso, permitindo a ele retomar sua vida. Aos poucos, voltou a ser quem sempre foi: o estudante dedicado, o irmão que jogava videogame nas horas vagas e o futuro médico, inspirado por aqueles que um dia o cuidaram. “Descobri que sou mais forte do que imaginava. Aprendi a valorizar as pessoas que estão ao nosso lado e os profissionais de saúde, que atuam na área por amor”.

No conjunto desses profissionais, a Dra. Nasjla desempenha um papel importante. Hoje, Victor não é apenas paciente, mas futuro colega de profissão – ele pretende fazer um estágio no GRAACC, sob a supervisão da mentora. “A Dra. Nasjla mora no meu coração”, diz ele, com o olhar úmido de quem sabe que, nas lutas mais difíceis, são os laços de afeto e a empatia que nos dão forças para continuar.

A dra. Nasjla também conta sobre as boas lembranças que tem do paciente. “Receber o diagnóstico de tumor cerebral é muito difícil, mas ele ficava atento a tudo que explicávamos, e durante todo o tratamento se comportou assim, com propósito de cura. Em nenhum momento mostrou desânimo. Brincávamos sobre qual seria a profissão que ele escolheria no futuro, falávamos em cursar medicina e depois vir trabalhar no GRAACC. E, hoje, o sonho foi realizado. O meu sentimento é de muito orgulho e de um imenso carinho por ele”, conta Dra. Nasjla, emocionada.

A trajetória do jovem é um exemplo para aqueles que enfrentam desafios semelhantes. “Não se deixem abalar. Acreditem no que vocês têm fé e deem o seu máximo durante o tratamento”, diz Victor.

Porque, no fim, a história de Victor não é apenas sobre a cura – é sobre o que acontece quando transformamos dor em afeto e criamos laços que ficam para sempre. É sobre uma vida que, mesmo nos momentos mais difíceis, encontra força para florescer.

 


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